Passos insólitos marcavam as ruas daquela cidade, os faróis
voltados todos de encontro ao olhar em névoa de Pedro, a frenesi da volta, a
ânsia dos que esperaram todo um dia para reiniciar a vida média. Pedro, passos
fortes às 18 horas. Um céu negro ameaçava chover com ira, chover e varrer tudo,
chover e varrer os taciturnos incômodos que insistiam em não perecer.
Gotas suaves rolaram por aquela face, atingiram aquela boca. O
gatilho mordaz da consciência é ativado, Pedro acelera a marcha, quase corre,
quase foge. Os carros perfilados param em continência àquela figura; atravessa
a faixa, quase foge. As gotas suaves se transmutam, agora já parecem chumbo,
chumbo denso, chumbo fosco, chumbo que se infiltra no lusco-fusco do momento,
chumbo que se infiltra na alma inatingível de Pedro. A visão mínima, a audição máxima, os ruídos da água-chumbo que
atinge o chão, os ruídos que retumbam.
Pedro adentra um café. Havia um café, um café-destino, um
café que desfaria, um a um, os nós daquela vida média. Salvação? Pedro, a pedra
do cotidiano! Pede um café, amargo, quase baço. A trivial pedra é golpeada,
esmagada, pulverizada pelo café, café-destino, café-insight, lucidez. Agora, contempla
em um quadro pintado à mão média, de uma alma média, seu cotidiano próprio. Já
é tarde, Pedro é lúcido!
Realmente muito bom a inverossímil vida de pedro! Muito bom conto.
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